Financeiro

Leia em 8 minutos

Sua empresa possui reservas financeiras? Deixe o aperto pra lá. Leia este post e aprenda como organizar as reservas financeiras da sua empresa.

Por Cezinha Anjos

Quase todos os mercados sofrem com altos e baixos que fazem donos de negócios e gestores financeiros se sentirem constantemente em uma montanha russa.

Em épocas de vacas magras, a qualidade das decisões tende a piorar se o seu caixa não estiver preparado.

A pandemia do COVID-19 foi uma aula sobre o assunto. É certo que você viu empresas demitindo e perdendo talentos incríveis e escassos, captando dinheiro a taxas absurdas, deixando de produzir e até mesmo quebrando.

Alguns negócios realmente não tiveram escolhas, mas a maior parte deles só não teve capacidade financeira para segurar as pontas. Afinal, a economia é cíclica. Por mais que ela fique ruim, uma hora ela voltará a ficar boa. E aqueles que estiverem mais bem preparados, são os que normalmente garantem a melhor fatia das novas oportunidades.

Continue lendo este artigo e entenda como você pode preparar o caixa da sua empresa para os tempos ruins e transformá-los em oportunidades.

Formação de reservas

Dinheiro em caixa é indiscutivelmente importante, porém, ele se torna ainda mais relevante quando ele ganha um propósito.

É bem comum gestores e gestoras olharem para o caixa e se preocuparem apenas em ter o suficiente para o dia a dia, ou seja, para fazer a sua empresa girar. Isso é importante, porém, não é suficiente.

A empresa também precisa ter um reserva de emergência, para os infortúnios e uma reserva de oportunidade para dar uma ajuda para a sorte. 😉

Reserva de emergência

Esta é a primeira reserva que você deve construir.

A reserva de emergência é um dinheiro que você deve deixar guardado para garantir que a operação da sua empresa não irá parar, caso algum problema sério aconteça com a entrada de receitas.

Você deve ter dinheiro guardado suficiente para que a empresa rode por uma quantidade determinada de meses caso algum problema muito grave aconteça.

Costumava-se guardar um volume de dinheiro em torno de seis meses dos custos e despesas da empresa.

Porém, veio o COVID e nos mostrou que talvez essa quantidade de meses não seja suficiente. Talvez um tempo mais seguro seja doze meses.

O que a reserva de emergência lhe entrega?

O principal objetivo da reserva de emergência é entregar paz para o gestor.

Se você sabe que tem dinheiro em caixa, suas decisões não serão desesperadas. Você ganha tempo para reverter algum problema, caso este esteja ao seu alcance ou então esperar ele passar, caso seja algo totalmente fora do seu controle – olha aí o nosso “amigo” COVID servindo de exemplo novamente.

Onde devo guardar este dinheiro?

A liquidez é um fator muito importante para a reserva de dinheiro. Não adianta nada você ter dinheiro guardado e não poder usar quando mais precisar, né?

Por isso, tente encontrar aplicações que possam ser transformadas em dinheiro o mais rápido possível. O ideal são aplicações com resgate em D+0, ou seja, o dinheiro está disponível no dia que você requisitou o resgate.

Ativos de difícil liquidez não devem ser usados. Imagine que você resolva comprar um terreno para usar como reserva de emergência e você precise transformá-lo em dinheiro com urgência. Será muito complicado você conseguir vendê-lo rapidamente e provavelmente terá que ofertá-lo com um valor abaixo do que você gostaria de obter.

É importante ressaltar que a liquidez tem um preço: a rentabilidade. Quanto maior for a liquidez do investimento, provavelmente menor será a sua rentabilidade.

Vale reforçar que a reserva de emergência não é um dinheiro usado para multiplicação de capital. Você deve priorizar segurança e liquidez.

Reserva de oportunidade

“Boa sorte é o que acontece quando a oportunidade encontra o planejamento.”
Thomas Edison

Como o próprio nome diz, a reserva de oportunidade é um dinheiro que a empresa pode ter reservado para aproveitar as oportunidades quando elas aparecem.

Por exemplo: digamos que a empresa esteja em um imóvel que não é dela e, por algum infortúnio, o locador resolve colocar o imóvel à venda por um preço abaixo do mercado.

Além da incerteza do que acontecerá com o imóvel nas mãos do novo locador, a aquisição deste imóvel pode representar um movimento estratégico para a sua empresa – hipoteticamente falando, é claro.

Neste caso, você pode usar a reserva de oportunidade para adquirir tal imóvel ou pagar parte significativa dele.

Compra de ativos é apenas uma das utilidades da reserva de oportunidade. Vamos recorrer a mais uma das lições que a pandemia deixou para todos nós.

Em algum momento da crise, muitas indústrias tiraram o pé do acelerador, pois não sabiam se e quando iriam voltar a operar normalmente. Isso acabou fazendo uma pressão em muitos fornecedores de matéria-prima, pois os mesmos não tinham pra quem vender.

Olhando um pouco mais pra frente, vimos que o cenário inverteu. As indústrias voltaram a todo vapor e começaram a demandar um consumo gigante de matéria-prima. A escassez de matéria-prima fez com que os preços subissem, e pior, algumas fábricas não foram reabastecidas porque a matéria-prima simplesmente acabou.

Os que tiveram sangue-frio e reserva de oportunidade para comprar matéria-prima quando ninguém queria, foram os que compraram mais barato e depois venderam seus produtos mais caros, pois os mesmos estavam em falta no mercado.

Onde devo guardar este dinheiro?

Esta reserva possui características semelhantes com a reserva de emergência. Você precisará alocar esse recurso em aplicações de alta liquidez e de baixo risco. Afinal de contas, a oportunidade aparecerá sem aviso prévio.

Tipos de aplicações

A sopa de letrinhas do mercado financeiro costuma deixar você confuso? Então vamos tentar deixar isso um pouco mais claro.

Existem diversos tipos de investimentos e os mesmos variam em segurança, liquidez e rentabilidade.

A segurança é traduzida em o quão seguro está o dinheiro aplicado. É um mercado estável? É um banco forte? O dinheiro possui seguro?

A liquidez é o tempo que a aplicação demora para se tornar dinheiro na necessidade de um resgate. Costuma-se lidar com termos como D+0, no qual significa que o dinheiro estará disponível no dia do pedido de resgate, D+1 que seria no dia seguinte, D+10 que seria dez dias após o pedido e assim por diante.

E a rentabilidade é o quanto a aplicação irá render.

Normalmente não é possível encontrar as três características fortes em uma só aplicação. Grande liquidez normalmente irá puxar a rentabilidade para baixo. Grande rentabilidade pode comprometer a liquidez e/ou a segurança.

Não existe certo ou errado. O tomador do risco é que deve entender o propósito do dinheiro investido e ajustar essas três variáveis.

No caso das reservas de emergência e de oportunidade, elas são investimentos que exigem uma liquidez alta. Se for necessário usar o dinheiro, este precisa estar disponível tão logo seja possível.

Precisa ser um dinheiro com relativa segurança. Não adianta nada sua empresa estar passando por uma crise e descobrir que o local que o seu dinheiro está investido também está passando por uma crise e não pode devolvê-lo.

Uma alternativa viável é diversificar as instituições financeiras.

Renda fixa ou variável?

Investimentos de renda variável, como ações em bolsa de valores ou fundos de investimentos multimercado, costumam ter retornos melhores, mas apresentam uma volatilidade muito alta. Por isso eles são mais usados para reserva de valor do que para reservas de emergência ou oportunidade.

Entre os investimentos de renda fixa, existem os pré-fixados e os pós-fixados.

Os pré-fixados são aqueles que você ganha uma taxa fixa. Já os pós-fixados são aqueles que ajustam os pagamentos de acordo com alguma taxa flutuante como a Selic ou o IPCA.

O IPCA é um índice de medida de inflação. Portanto, se você investir numa aplicação que paga o IPCA + 1% a.a., significa que o seu dinheiro será corrigido pela inflação e ainda ganhará 1% ao ano. Parece o ideal, né? Mas o problema é a liquidez. Normalmente esse tipo de investimento terá um vencimento maior.

A taxa Selic é o índice que serve de base para o cálculo das taxas de juros da economia brasileira. Dentre várias coisas, ela é um instrumento de regulação da inflação. Se a taxa Selic sobe, o crédito fica mais caro e o consumo diminui. O inverso também é verdadeiro.

A Selic é muito mais complexa que isso, fica a dica aqui, uma pesquisa sobre como funciona a Selic Meta e a Selic Over.

Você encontrará investimentos dizendo que pagam 100% do CDI. Isso significa que eles pagarão 100% da taxa Selic. Se você procurar bem, pode encontrar oportunidades que pagam 120%, 150% ou até mesmo 210% da taxa Selic. Só fique ligado na liquidez, pois produtos de maiores rendimentos tendem a exigir que o dinheiro fique retido por algum tempo.

Produtos como Tesouro Selic, CDB, LCI, LCA e contas remuneradas são indexados pela Selic. Em geral, são bons produtos para manter o dinheiro do caixa e das reservas. O rendimento é pequeno, porém, a rentabilidade e a segurança costumam ser ideais.

É necessário prestar atenção no imposto de renda e taxas. Isso pode detonar o rendimento dessas operações.

Fique ligado! Nós não somos especialistas em finanças e por isso não damos recomendações de investimentos. Nosso objetivo é que você entenda o mínimo para que sirva de ponto de partida em seus estudos sobre o assunto.

O óbvio

Se você chegou até aqui eu aposto que leu uma série de obviedades.

O problema é que muitos gestores e gestoras não seguem esses passos simples e acabam suscetíveis a grandes baques em suas operações.

Não deixe para amanhã: abra hoje mesmo uma aplicação e comece a encher as reservas devagarinho. Quando você menos esperar, a tranquilidade passará a ser sua amiga.